Eventos Feministas


30 outubro 2011

Poetisa Maria Rezende



Crítica interessante sobre a obra da poetisa contemporânea Maria Rezende.
+ o vídeo DELA recitando seu poema mais famoso e gozadinho.





Maria Rezende faz crítica ao falogocentrismo da mulher auto-suficiente

            “Adoro pau mole /pelo que ele expõe de vulnerável e pelo que encerra de possibilidade”. Foi com este verso que Maria Rezende me conquistou, nos idos do início dos anos 00, quando conheci seu trabalho (estando os anos 00 chegando ao fim, já se pode falar deles com alguma nostalgia?). Se a web foi o paraíso dos iniciantes em todas as áreas da escrita, mais ainda para os poetas, seres incansáveis. Nos anos 70, eles perambulavam pelos bares vendendo seus textos em mimeógrafos (eles ressuscitam todos os anos em Paraty, durante a Flip). Nos anos 00, invadiram a blogosfera, de onde os talentosos tiveram a chance de partir para a impressão em papel. Foi o que aconteceu com os primeiros poemas de Maria, publicados no independente Substantivo feminino, em que figura o seu poema-hit “Adoro pau mole”, cujos versos ganharam versão em inglês (“I Love a soft dick”) e foram parar numa exposisão no International Museum of Women, de São Francisco.
Por conta de todo esse sucesso, “Adoro pau mole” é declamado em faixa bônus no CD que acompanha Bendita palavra, segundo livro de Maria, que chega às livrarias pela editora 7letras. Ela está de novo exposta, com seus versos arriscados – o meu favorito abre o livro e fala justo sobre riscos. “O risco não é um traço/ é a diferença entre o pulo e o salto”, diz Maria, como quem dá boas vindas. Não vai ser uma viagem banal essa que ela te convida a fazer a partir daí.

E, tal qual havia promovido com “Adoro pau mole”, ela de novo vai desconstruir.  “Gata, gostosa, tesudinha” tem chance de se tornar seu poema-hit, com a descrição das suas colegas de geração. O alvo da vez é a dita emancipação feminina, sobre a qual Maria – nascida em 1978 – joga um olhar crítico quando diz: “Não é careta nem doidona/ adora esportes na TV e sexo de madrugada/ não fala em filhos nem casamento/ e cuida sozinha da anticoncepção./ Por ela suspiram os machos do século 21/ e por causa dela sofrem as fêmeas/ meros projetos de musa/ nós mulheres reais”.
   Da mesma maneira como “Adoro pau mole” era um verso certeiro no falogocentrismo, expondo a beleza da vulnerabilidade masculina, “Gata, gostosa, tesudinha” é um excelente crítica ao mesmo falogocentrismo que acomete a mulher dita auto-suficiente e que, como diz Maria, “não pede ajuda, não liga pra bagunça/ não chora à toa, não fala demais”. Segundo a autora, a tal gata é prendada, lava, arruma e cozinha. Faz unha, café, busca o cara de carro e ainda dirige pro motel. Esse projeto de perfeição, a musa a que Maria se refere, é inalcançável, como ela também denuncia no final.

Assim, embora Maria faça deste novo livro uma ode às palavras – (“Bendita cada palavra escrita... Bendito o fruto deste alfabeto... Bendita também a palavra maldita”) – do meu ponto de vista é no tema do feminino que se anunciava no título do seu primeiro livro onde Maria mais brilha. Seu “Tenho 29 anos/ um punhado de cabelos brancos/ dinheiro pra viver um ano/ e quero ser mãe” é outra demonstração de que quando fica no tema, Maria faz seus melhores versos, porque capazes de produzir empatia imediata, essa que qualifica a obra de arte como o que, se não dá sentido à vida – porque nada dá – pelo menos serve de sombrinha na tormenta nossa de cada dia. Benditas as palavras de Maria.

Fonte:




Maria Rezende - "Adoro Pau Mole".

E aí? Gostaram, já conheciam?Me contem.Recomendo assistirem/ler o poema "O Risco".



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