+ o vídeo DELA recitando seu poema mais famoso e gozadinho.
“Adoro
pau mole /pelo que ele expõe de vulnerável e pelo que encerra de
possibilidade”. Foi com este verso que Maria Rezende me conquistou, nos
idos do início dos anos 00, quando conheci seu trabalho (estando os anos
00 chegando ao fim, já se pode falar deles com alguma nostalgia?). Se a
web foi o paraíso dos iniciantes em todas as áreas da escrita, mais
ainda para os poetas, seres incansáveis. Nos anos 70, eles perambulavam
pelos bares vendendo seus textos em mimeógrafos (eles ressuscitam todos
os anos em Paraty, durante a Flip). Nos anos 00, invadiram a blogosfera,
de onde os talentosos tiveram a chance de partir para a impressão em papel. Foi o que aconteceu com os primeiros poemas de Maria, publicados no independente Substantivo feminino, em
que figura o seu poema-hit “Adoro pau mole”, cujos versos ganharam
versão em inglês (“I Love a soft dick”) e foram parar numa exposisão no
International Museum of Women, de São Francisco.
Por conta de todo esse sucesso, “Adoro pau mole” é declamado em faixa bônus no CD que acompanha Bendita palavra, segundo livro de Maria, que chega às
livrarias pela editora 7letras. Ela está de novo exposta, com seus
versos arriscados – o meu favorito abre o livro e fala justo sobre
riscos. “O risco não é um traço/ é a diferença entre o pulo e o salto”,
diz Maria, como quem dá boas vindas. Não vai ser uma viagem banal essa
que ela te convida a fazer a partir daí.
E, tal qual havia promovido com
“Adoro pau mole”, ela de novo vai desconstruir. “Gata,
gostosa, tesudinha” tem chance de se tornar seu poema-hit, com a
descrição das suas colegas de geração. O alvo da vez é a dita
emancipação feminina, sobre a qual Maria – nascida em 1978 – joga um
olhar crítico quando diz: “Não é careta nem doidona/ adora esportes na
TV e sexo de madrugada/ não fala em filhos nem casamento/ e cuida
sozinha da anticoncepção./ Por ela suspiram os machos do século 21/ e
por causa dela sofrem as fêmeas/ meros projetos de musa/ nós mulheres
reais”.
Da
mesma maneira como “Adoro pau mole” era um verso certeiro no
falogocentrismo, expondo a beleza da vulnerabilidade masculina, “Gata,
gostosa, tesudinha” é um excelente crítica ao mesmo falogocentrismo que
acomete a mulher dita auto-suficiente e que, como diz Maria, “não pede
ajuda, não liga pra bagunça/ não chora à toa, não fala demais”. Segundo a
autora, a tal gata é prendada, lava, arruma e cozinha. Faz unha, café,
busca o cara de carro e ainda dirige pro motel. Esse projeto de
perfeição, a musa a que Maria se refere, é inalcançável, como ela também
denuncia no final.
Assim,
embora Maria faça deste novo livro uma ode às palavras – (“Bendita cada
palavra escrita... Bendito o fruto deste alfabeto... Bendita também a
palavra maldita”) – do meu ponto de vista é no tema do feminino que se
anunciava no título do seu primeiro livro onde Maria mais brilha. Seu
“Tenho 29 anos/ um punhado de cabelos brancos/ dinheiro pra viver um
ano/ e quero ser mãe” é outra demonstração de que quando fica no tema,
Maria faz seus melhores versos, porque capazes de produzir empatia
imediata, essa que qualifica a obra de arte como o que, se não dá
sentido à vida – porque nada dá – pelo menos serve de sombrinha na
tormenta nossa de cada dia. Benditas as palavras de Maria.
Fonte:
Maria Rezende - "Adoro Pau Mole".
E aí? Gostaram, já conheciam?Me contem.Recomendo assistirem/ler o poema "O Risco".
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