Eventos Feministas


10 novembro 2011

É para rir ou para chorar? Socialites discutem conflito na USP.

Acima a leitura elitista/preconceituosa das socialites sobre a invasão da polícia na USP.
Abaixo, o depoimento de uma estudante de letras da USP, blogueira e militante feminista:

 "O que está sendo passado para a população é, no mínimo, assustador, por incorrer em inverdades. Chamarei de inverdades e não mentiras, por levar em conta que boa parte dos jornalistas não conseguiu investigar as questões que traz a público. Muitas vezes, prefere-se investir em estereótipos a ir à caça das análises e discussões que fomentam as manifestações. Isso, em minha opinião, reflete mais preguiça midiática do que, propriamente, má fé por parte do corpo jornalístico. A mídia, muitas vezes, tem o poder de apontar caminhos para a formação do pensamento sócio-cultural. A informação nem sempre é tomada como um objeto de reflexão, mas digerida como a reflexão em si. Contudo, infelizmente, ainda não se empreendeu uma discussão séria a esse respeito. A mídia continua a divulgar questões de interesse público, como é o caso da USP, com base em dicotomias ultrapassadas, mas facilmente apropriadas pela massa. Contrariando essa tendência ditatorial da comunicação nacional, a blogosfera se levanta como um espaço para mostrar a mesma face da moeda sob diferentes prismas. E preenchendo uma parcela (ainda pequena) desse espaço estamos nós, blogueiras feministas.

 Particularmente sobre o episódio da USP, é assustador ver como polarizaram a discussão em “maconheiros preguiçosos” vs “policiais trabalhadores”. Baderneiros preguiçosos é a alcunha que muitos uspianos usam para designar os estudantes da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), em clara contraposição a si mesmos, afinal, profissões na área de humanas não são consideradas trabalho por algumas pessoas. Nessa percepção maquiavélica, noto muito do que se tem na discussão de gêneros, onde a mulher é acusada por não ocupar majoritariamente os espaços das ciências exatas, como se essa fosse uma condição sine qua nonpara termos direito de requerer o grau de trabalhadoras liberadas, logo salários igualitários.

 Mas, opondo-se a essa visão limitante dos fazeres humanos, recentemente, a QS Word University Ranking mostrou que nove cursos da USP aparecem entre os duzentos melhores do mundo e, calcule-se a trivialidade dos dados, seis dos nove são da FFLCH. Isso dá uma baita pista de que os alunos da FFLCH (vulgo “fefelechentos”), no que eu me incluo, não são os maconheiros desocupados, baderneiros ocasionais, que a mídia anda pintando.

 A comunidade USP, que é composta por cerca de 110 mil pessoas, na verdade, pode estar mais preocupada em discutir rumos para USP e sociedade do que em polemizar o uso da maconha. Para defender a legalização ou a criminalização do uso de maconha, temos outros mecanismos, que não a ocupação do espaço público estudantil. Logo, definir o movimento em termos de “maconheiros” vs“caretas” não reflete o tópico da questão. A apreensão dos três estudantes que portavam quantidade de usuário do entorpecente maconha parece ter sido apenas o estopim para deflagrar o problema da restrição da liberdade em uma das vinte e cinco autarquias do Estado de São Paulo. A polêmica não é e nunca foi se os estudantes teriam liberdade para usar entorpecentes, mas que tipo de policiamento o “pacto” do reitor estaria enfiando na USP. Na manhã do dia 08/11, terça-feira, tivemos uma amostra do desrespeito que esses policiais têm para com o cidadão, o estudante, o pesquisador, o intelectual da USP. Sim, somos tudo isso, mas parece que ninguém mais leva em consideração os anos de estudo que dedicamos apenas para conseguir passar pelo vestibular e, em seguida, para passar pela graduação, e assim sucessivamente. A maioria de nós não é marginal. Um criminoso não estaria ali, expondo-se à prisão, para vender meia dúzia de baseado. Quem saiu minimamente do Neverland sabe que não é o traficante que vai atrás do usuário, ainda mais se o usuário estiver em um espaço cercado por policiais, câmeras de televisão e todo o circo que vimos ser armado.
 O público é a sociedade e a sociedade deveria estar na universidade, ambas trabalhando em contiguidade. Quando se estabeleceu os modelos de universidades públicas no Brasil, tinha-se em mente um espaço urbanístico capaz de abrigar o entorno da universidade, o que seria justo, afinal se todos pagamos para mantê-la, todos deveríamos poder usufruir de seus recursos. Essa ideia não é só “politicamente correta”, mas funcional. Se mais pessoas ocupassem a USP, haveria maior pressão para que as vias fossem melhor iluminadas. Com mais pessoas em atividade, isso poderia coibir assaltos e violências. Enfim, teríamos uma cadeia favorável a todos. A todos, não, a alguns. Porque a política dos reitores mais recentes caminhou, justamente, em sentido oposto, isto é, restringiu a apropriação da universidade pela sociedade. Mas e a PM (polícia militar), onde é que ela (não) entra?
 Quando dizemos que a universidade, para ser verdadeiramente pública, deve estar aberta à sociedade e, ao mesmo tempo, um movimento sinaliza que a PM é prejudicial ao bom andamento da dinâmica universitária, isso pode soar paradoxal. Ou seja, alguns uspianos (usamos o “alguns” porque, como é saudável a toda discussão, nessa, também, há divergências de opinião, então enfoco uma parte da comunidade uspiana, a que é favorável à retirada da PM dos campi) querem se integrar à sociedade, mas não querem estar sob os mesmos instrumentos de “proteção” que servem para regimentar a sociedade. Então, grat@ contribuinte, acredito que é chegado o momento de ampliarmos essa discussão. Afinal, que PM é essa que mais assusta do que protege?
 Proponho que iniciemos essa discussão sem partirmos de estereótipos. Os policiais não constituem uma massa homogênea nem de abnegados trabalhadores do bem, tampouco de corruptos, carniceiros. Eles são tão humanos quanto nós, estudantes da USP. Recebem um salário baixo para se submeterem a toda sorte de infortúnios e, pelo bem ou pelo mal, não tomaram a USP porque não tinham nada de mais emocionante a fazer. A troca de choque e os helicópteros apareceram, às 5h (não às 17h), no campus Butantã da USP por mandado de alguém e, certamente, trata-se de alguém bem mais poderoso do que eu, do que a comunidade USP, do que a comunidade que cerca a USP. Sendo assim, pergunto-me se há, de fato, fronteiras intransponíveis entre a universidade e a sociedade. Quem as ergue(u) e a quem interessa mantê-las?"



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É isso aí, pessoal!


2 Leitor@s:

DOUGLAS disse...

pelo que a midia passa,e que realmente tudo começou pelo fato de 3 alunos tarem usando maconha, dae a policia tentou pegar eles mais ae outros alunos começaram a fazer aquela tempestade inteira e talz.

um assunto totalmento polemico, mais nao sei de fato o motivo ralmente

http://souferrofundido.blogspot.com/ disse...

Por isto coloquei o depoimento de uma aluna que viu tudo acontecer. Acho bastante esclarecedor.Procurei informações em várias fontes, e creio que o único erro dos uspianos foi o momento que eles escolheram para tomar o prédio, após a prisão dos usuários.Porque eles já estavam tentando negociar certas melhorias. Os jornais, imediatistas como são,pretendendo dar logo a notícia, acabaram por deturpar as reinvindicações dos estudantes.A "tempestade" têm motivo de ser. O certo seria que todos os brasileiros, estudantes de lá, ou não, ajudassem. Porque é a favor da democracia, "que as 'donas' do vídeo só ouviram falar" que eles estão lutando. Eles têm direito á eleger o reitor, como a segurança será feita. Dr. Alckmin não pode enfiar decisões goela abaixo dos cidadãos.Chamá-los de maconheiros é fácil,e também uma forma de empurrar a sujeira para debaixo do tapete.Obrigada pelo comentário.